quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O suplício físico de Jacques de Molay

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O suplício físico de Jacques de Molay, impotente para produzir nenhum resultado mais que baixamente material, desencadeou sobre a Igreja as forças mágicas que essa acção material era incompetente para dominar, servindo só para as desencadear. E o pior foi que o processo de imolação fosse pelo Fogo, isto é, pelo Elemento da Ordem. Assim, para falar um pouco obscuramente, o que era Adepto Exempto, em vez de passar a Mestre do Templo, foi erguido a Mago, e, apto a pronunciar a Palavra da Era, pronunciou-a como Irmão Negro, e contra a Igreja. Toda a civilização moderna, desde a Reforma aos nossos tempos, no que é oposição à Igreja e conspurcação dela e dos seus princípios, é a vingança encarnada de Jacques do Molay. A fogueira em que foi queimado o Grão-Mestre dos Templários foi o lume que ateou o incêndio em que hoje todos ardemos.

Num ponto, porém, a vingança de Molay, operando per vias inferiores, caiu no mesmo erro em que haviam caído os seus algozes. Foi quando D. Sebastião, AE [Adepto Exempto], foi feito cair em Alcácer Quibir. Caiu pela espada, isto é, pela Terra, e o erro foi o mesmo que o de fazer Molay cair pelo Fogo, porque de igual natureza. No mesmo modo o Adepto Exempto ascendeu a Mago, queimando o grau intermédio, e pronunciou, no tempo dado, a Palavra de Era seguinte."


Fernando Pessoa

4 comentários:

Anónimo disse...

olá Francisco,
Deixo-te aqui um link para o nosso blog. Talvez tenha interesse par ti.
Abr Degraconis
http://blog.thomar.org/

Anónimo disse...

Tomei a liberdade de o tratar por tu. Peço-lhe desculpa pela ousadia num primeiro contacto. Saudações.
Degraconis

Francisco Canelas de Melo disse...

Caro Degraconis,

Já conheço há algum tempo o vosso blogue/forum.

Continuação de um excelente trabalho templário.

Saudações Templárias,

FCM

Anónimo disse...

Quanto ao texto que nos traz do Fernando Pessoa acho-o muito interessante do ponto de vista da análise das influências que os escritos de algumas ordens tiveram sobre o seu pensamento, mais do que o conteúdo em si, e não se tome isto como uma desconsideração às suas reflexões filosóficas, que sem dúvida, algumas não ficam atrás da genialidade da sua poesia. Os termos usados nestes textos são prova disso.
Degraconis